DESESPERO DE CAUSA
( a remuneração dos juízes do STF)
Exerci a função de Diretor de Recursos Humanos na minha vida profissional.
A área hoje chamada de “Gente” sempre se colocou contrária à concessão de
adicionais por tempo de serviço. A lógica e simples: Não devemos premiar o tempo
de serviço na empresa, mas (e principalmente) o quanto de contribuição cada
colaborador entrega para a sua organização. Esta concessão antiga e
ultrapassada era cláusula constante em todos os acordos sindicais mantidos com as
empresas. Em alguns casos, ao arrepio da produtividade, era concedida uma
gratificação de férias de um salário sem qualquer requisito de tempo de empresa.
Isto hoje, por coerência, já praticamente
não existe. Hoje todas as organizações modernas e eficazes em negócios alocam
verbas em seus orçamentos para planos de remuneração estratégica voltada para
seus executivos e profissionais, através de bônus e/ou participação de lucros.
A lógica é estimular as pessoas retornando com recompensa pecuniária aqueles que
de fatos fazem a melhor entrega de resultados. E não são pagos pelos belos olhos
desses profissionais; esses planos são autossustentáveis, ou seja, só são pagos
quando o retorno nos resultados é maior do que os valores pagos pelas empresas. Agora
nossos queridos magistrados, ótimos em direito, mas péssimos em administração,
querem um reajuste de 16% na remuneração. Qualquer consultoria idônea mostraria
que eles já recebem mais do que seus cargos equivalentes no mercado por
conhecimento, complexidade e responsabilidade; não satisfeitos querem manter o auxílio
moradia hoje recebido de forma imoral. Para culminar colocam um “trade off” de, se for o caso da extinção do auxílio moradia, voltar ao pagamento do adicional
por tempo de serviço. O pior de tudo é
que não vemos nas discussões racionais adequados a serem levados em conta.
Falar de reposição salarial de mais 16% para quem já ganha mais do que o mercado não é digerível.
Voltar aos tempos de premiar o “tempo de casa” e não a
produtividade faz menos sentido ainda.
JOÃO TEIXEIRA DE AZEVEDO NETO
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Fonte : JORNAL O GLOBO 10/11/2018
Associações
de juízes querem a volta do adicional por tempo de serviço para cumprir o
acordo que o presidente do STF, Dias Toffoli, fez com o presidente Temer, de
abdicar do auxílio-moradia para compensar o aumento aprovado pelo Senado. Na
internet, Bolsonaro queixou-se do reajuste: “Estão jogando na minha conta”. O acordo
entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, e
o presidente Michel Temer para que a Corte vote o fim do auxílio-moradia gerou
insatisfação nas associações de juízes. As entidades propõem um acréscimo no
acordo: para abdicar do benefício, querem a volta do adicional por tempo de
serviço — um outro penduricalho que propicia, ao longo dos anos, vencimentos
maiores. Antes mesmo de assumir a presidência do Superior Tribunal Federal
(STF), o ministro Dias Toffoli combinou com o presidente Michel Temer que, se o
Senado aprovasse o reajuste salarial de 16,38% para a magistratura, os juízes
abririam mão do auxílio-moradia. A segunda parte do acordo, no entanto, não
será tão fácil de ser cumprida, ainda que os ministros do STF estejam dispostos
a restringir o pagamento do auxílio-moradia a casos específicos. A Associação
dos Magistrados do Brasil (AMB) lidera o movimento junto à Corte para garantir
que a queda de vencimentos não seja significativa. Semanas atrás, antes da
aprovação do reajuste no Senado, o presidente da entidade, Jayme de Oliveira,
era explícito: —Precisamos recuperar o adicional por tempo de serviço. Hoje, a
AMB acha que é devido o auxílio-moradia da forma como é pago.
BOLSONARO
RECLAMA
A
avaliação no meio jurídico é que, mesmo restringindo o pagamento do auxílio moradia,
o que deve acontecer, o STF vai precisar encontrar uma fórmula para pacificar a
magistratura. A volta do adicional por tempo de serviço parece juridicamente
improvável, considerando as recorrentes decisões do tribunal sobre o assunto.
Indignadas, as associações de juízes prometem bater o pé — o que pode
significar, inclusive, uma greve da categoria. O auxílio-moradia e o adicional
por tempo de serviço estão previstos na Lei Orgânica da Magistratura Nacional
(Loman), editada em 1979 pelo então presidente Ernesto Geisel. Ela estabelece
“ajuda de custo, para moradia, nas localidades em que não houver residência
oficial à disposição do magistrado”. Hoje, com o entendimento ampliado, o
Judiciário paga o benefício a todos os juízes que não ocupam imóveis funcionais
— mesmo que tenham residência própria, mesmo sem apresentar o recibo do
aluguel. A tendência é o STF restringir o pagamento do benefício apenas a quem
de fato mora de aluguel, não tenha residência onde trabalha e não ocupe imóvel
funcional. Em transmissão ao vivo ontem por suas redes sociais, o presidente
eleito Jair Bolsonaro (PSL) fez uma queixa sobre a votação no Senado que
concedeu o aumento salarial para os ministros do Supremo. Bolsonaro reclamou de
estarem “colocando” em sua conta o reajuste. O salário dos ministros passará
para R$ 39,2 mil. A proposta foi enviada pelo próprio Supremo ao Congresso e já
havia sido aprovada pela Câmara, mas estava parada desde 2016 no Senado.
—
Deixo bem claro: não sou o presidente da República. Estão botando na minha
conta o reajuste do Judiciário, como se eu tivesse poderes para impedir. Eu dei
minha opinião de que era inoportuno aquilo no momento, mas a decisão não é
minha. A decisão está nas mãos do presidente Michel Temer, se vai sancionar ou
vai vetar. Querem colocar na minha conta para começar com problemas junto às
instituições —afirmou.
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